quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

OPINIÃO: Um dia memorável em defesa da dignidade humana: a fundação do Sindicato das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do Comércio Informal de Recife-PE (Por Otávio Luiz Machado)

Um dia memorável em defesa da dignidade humana: a fundação do Sindicato das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do Comércio Informal de Recife-PE
Otávio Luiz Machado*

“Vamos precisar de todo mundo,
para varrer do mundo a opressão,
para construir a vida nova,
vamos precisar de muito amor
(...)
Vamos precisar de todo mundo,
Um mais um é sempre mais que dois.
Para melhor juntas as nossas forças,
É só repartir melhor o pão” (Beto Guedes).

Ontem não foi um dia especial  só porque   um 12-12-12 pôde ser comemorado, o que se repetirá somente após um século, quando raramente um dos viventes de hoje vai poder estar presente para comemorá-lo.
Foi um dia mais do que especial,  porque uma categoria que faz parte do cotidiano de nossa cidade e nem sempre é respeitada, valorizada e vista como detentora de direitos deu um passo importante para resgatar a sua dignidade, mudar sua imagem pública e transformar a opressão diária em instrumento de transformação de si própria e da sociedade como um todo.
A fundação do sindicato das trabalhadoras e dos trabalhadores do comércio informal de Recife-PE vem trazer um novo conceito  para um tipo de representação sindicalizada que infelizmente anda muito em baixa no nosso País, ora porque estão engessados pela excessiva burocratização da sua atuação, ora porque estão cooptados pelos poderes que não cansam de oferecer favores em troca do silêncio, da omissão ou mesmo da subordinação irrestrita aos seus caprichos e cartilhas.
O sindicato em questão não poderá cometer os mesmos erros da maioria dos nossos sindicatos, porque ele é fruto do acúmulo de forças e experiências desde o início de 2011, quando pela primeira vez os comerciantes informais foram desafiados pela truculência vinda de cima que não mediram esforços para colocar pessoas na condição de coisas, uma atividade laboral digna no status de algo fora da lei e criminosa e um assunto que exigiria respeito e diálogo sendo resolvido à base de bala, gás lacrimogênio e cacetete.
O mais engraçado nessa história foi perceber quem estava contribuindo para essa injustiça: uma prefeitura municipal cujo slogan é “a cidade cresce cuidando das pessoas”   e uma universidade federal que diz ser “referenciada socialmente”. Foi a tentativa de retirada dos barraqueiros de parte do Hospital das Clínicas da  UFPE que pela primeira vez  fez despertar uma verdadeira consciência de classe nesses trabalhadores e trabalhadoras.
Foi desse episódio que saiu a primeira semente para a organização de uma associação dos barraqueiros da UFPE, que posteriormente avançou como Coletivo de Luta Comunitária (CLC) e por fim chegou ao sindicato do qual trato nesse texto. Por isso falo da diferenciação desse sindicato em relação aos demais,  porque ao longo de sua pré-formação foi  alargando suas bandeiras, colocando para dentro outros grupos também em condição desprivilegiada, como os moradores de comunidades ameaçadas de despejo de áreas que conquistaram e começaram a forjar uma luta para conquista dos direitos humanos básicos: o de morar e o de trabalhar.
Sou um daqueles que pude testemunhar toda essa luta,  porque a vi nascer e tentei dar uma pequena colaboração desde o seu início. Não tenho só imagens memoráveis na minha memória, mas tenho imagens que produzi e uma singela produção acadêmica que trata disso, cujo livro está aqui:


Tive o pique suficiente para estar no primeiro grande protesto que percorreu todo o campus da UFPE e resultou no fechamento da BR-101, nos protestos no centro da cidade (ou na frente do Hospital Barão de Lucena) e na ocupação da Câmara Municipal (ou da própria prefeitura  de Recife). Sem contar nos protestos de outros grupos no qual esse coletivo que fundou o sindicato também se envolveu.
  Digo que o sindicato do comércio informal de Recife não poderá se apequenar como tantos outros congêneres assim o fizeram porque ele não foi criado apenas para dar resposta a uma situação imposta pela Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Ele foi criado para acima de tudo dar dignidade a uma categoria que tem sido massacrada ao longo de décadas, cuja luta não se encerra, jamais. A reparação histórica e a conquista de novos direitos é a luta de uma vida, eis aí o meu desejo de vida longa a essa entidade.
Num próximo texto trarei uma análise do momento ímpar da sessão de fundação do sindicato.
P.S. Eis aqui algumas imagens do dia memorável de ontem:





  
 

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